segunda-feira, 13 de junho de 2016

Do sentir...

Preciso escrever quando não consigo falar.
Preciso escrever quando o sentir me assombra.

Mas quando o sentir me destrói, preciso me ouvir.
Mais! Preciso me escutar. Escutar o que dizem meus pensamentos,
Escutar o que chora no meu corpo, atentar o que grita no meu peito.

Chorar de mansinho, deixando vir o que quer se apresentar.
Silenciar e apenas escutar.
Não se apressar em entender, deixar vir...

Gradativamente, e na medida da nossa necessidade mais profunda
A compreensão nos alcança. E quando isso acontece,
não mais adormece.
Nos protege, fortalece
e sempre,
sempre enternece.

terça-feira, 17 de maio de 2016

Da segurança

Ela não ia.
E não ia porque já não podia.
Porque só sabia ir inteira, só conseguia ser com tudo. Pele, palavra e emoção
E das vezes que foi, mal se conteve
No caminho se via sozinha.
Faltava-lhe chão.
Faltava -lhe o chão que a mantivesse firme, que a sustentasse e dissesse :
Vai, mas volta.

sábado, 7 de maio de 2016

Fluir ...

Cada vez que a gente sente o corpo tremer, a respiração mudar, o sorriso chegar, a emoção acompanhar...
é a Vida nos premiando,oferecendo renascimentos. Cumpre que, devagar, nos deixemos levar.

Fertilidade é se deixar Viver

Uma das coisas mais lindas na Vida é sua fecundidade. Terreno farto, abundante, vai se nutrindo com as dores, transformando medos, transcendendo desesperanças, ainda que nossa consciência esteja adormecida, ela - a Vida - não deixa de florescer, de apontar caminhos, não desiste da gente um único segundo. Por vezes a gente é quem parece desistir, tontos e frágeis caímos, a força parece sumir, mas ela está apenas se revitalizando. Força também carece de descanso, e quando não o buscamos ela parece sumir, a Vida padece (e parece!) sumindo...É a forma encontrada pra te fazer parar, se preservar, se pensar e recomeçar. De outro jeito, com outras estratégias, com outros olhares, com novo ânimo.
Força não tem a ver com confronto permanente, força é parar, respirar, confiar, é apaziguar quando tudo é confusão, é se retirar quando tudo é desgaste.
E que beleza que é quando respeitamos a nós mesmos e ao nosso potencial. Tudo sorri na sequência, tudo ganha outra forma, e aquele controle que a gente acha que possui sobre tudo vai se dissipando e vai se transformando em Confiança.
Algo mais sólido, porque flexível; mais bonito, porque fluido; mais tranquilo,por aliar-se à Esperança.

domingo, 27 de março de 2016

Pensei em escrever

Pensei em escrever...
Escrever algo que aplacasse essa sensação de angústia;
esse embotamento do que não foi dito, mas que ainda parece estar preso na garganta.
Escrever algo que minimizasse esse impacto que sinto a cada direção tomada por você e sentida como um disparo por mim, mas que ainda busco, pra encontrar sentidos.
Disparo de tuas palavras cheias de força e que, embora não entendidas por mim, sentidas com todo o abalo produzido a cada leitura.

Pensei em escrever pra dizer o que sinto, mas nem sei ao certo o que seja, não tenho comigo palavras. Sou todo impulso sem razão.
Não sei se escrevendo expurgaria meus fantasmas, não vejo mais por onde possa fazê-lo. Trago-os na ponta da lança afiada que dirijo a todos que encontro.

Pensei em escrever, mas talvez não seja capaz. Trago tudo embaralhado entre poeira e cheiro de mofo diante de dores profundas e passadas, porém nada superadas.

Pensei em escrever...

Nesse momento desperto!
Nada que eu escreva poderia surtir tais efeitos. Toda essa dor sentida não é minha, mas sua!
Apenas ressoa no meu peito.


A caco, com votos que um dia torne-se inteiro.




quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Da amargura

A amargura é bicho feroz. Não concebe a beleza, não viabiliza acesso, indisponibiliza frutos. Tudo que um amargurado quer é destruir.Destruir o que enxerga no outro e julga não mais existir nele. Desta forma, então, dirige-se ao externo.E com sua arma letal mira justamente os lampejos de doçura que encontra pelo caminho e que o poderiam salvar, que o poderiam apontar respiros. Vai nesse movimento frequente, estraçalhando tudo que vê pela frente. Antídoto sempre há, mas só quando a amargura esmorece. Esmorece de atacar, de machucar, de destratar os que do amargurado se aproximam. E aproximam-se para quê,nesse turbilhão de ataques? Por alguma estranha razão, uma doçura encontra a outra, estão sempre se reconhecendo, ainda que nem todos os seus portadores. O que o amargurado não vê objetivamente, em sua condição de sobrevida, é que em seus ataques reside sua própria doçura perdida, cansada e abatida, pedindo vida, pedindo vida...

Do sentir...

Preciso escrever quando não consigo falar. Preciso escrever quando o sentir me assombra. Mas quando o sentir me destrói, preciso me ouvir...